segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

você sempre será.

Quem me vê hoje apaixonada por meninos do kpop um tanto quanto mais novos do que eu, sequer imagina que minha vida de Susana Vieira se iniciou muito tempo atrás. Sim, minha gente. Senta que lá vem história: antes de Vernon, Jungkook, e até mesmo de Harry Styles, existiu aquele que habitaria meus sonhos até o fim dos meus dias...
Okay. 
Também não é assim. 
Mas vamos lá. Solta o VT!


VICTOR DA 5ª SÉRIE


Jamais me esquecerei de Victor da 5ª Série. Jamais me esquecerei de seus cabelos loiros, longos e sedosos, da borrachinha azul que enfeitava seu aparelho fixo, e nem de como ele ficava lindo vestindo as cores da 5ª F (azul marinho e azul turquesa. Ainda bem que ele gostava de azul). Jamais me esquecerei, também, da primeira vez em que o avistei ali, tranquilo e sereno, sentado na fila da oração, antes da aula começar. 
Veja bem, eu estudava em um colégio de freiras. Todos os dias, antes do início das aulas, as turmas se organizavam em fileiras no pátio e esperavam a Irmã da vez aparecer para que fizessem uma oração — que muitas vezes envolvia músicas religiosas e coreografias. Mas, por algum motivo que até hoje eu desconheço, a 6ª série estava liberada disso tudo. Era uma obrigação que recaía apenas sobre os alunos do maternal à 5ª série, e nós, os mais velhos do turno vespertino, sentíamos que estávamos dando o primeiro passo rumo à vida adulta: primeiro você reza sozinho e, depois, o céu é o limite.
O fato de a 6ª série trazer tantas responsabilidades também significava que eu estava velha demais para gostar de alguém um ano mais novo. Afinal de contas, era muita humilhação. Vergonha em excesso. Suicídio social. Por isso, assim que vi Victor e percebi que a) ele poderia ser integrante de uma boyband e b) algo definitivamente estava acontecendo em meu estômago, decidi não comentar sobre ele com ninguém. A não ser, é claro, que alguém comentasse sobre ele comigo primeiro — o que não demorou a acontecer. Ninguém liga para detalhes como idade quando um filhote de Taylor Hanson se matricula na escola, e antes mesmo do fim do primeiro dia de aula, todas as meninas da minha turma já sabiam o nome do meliante.
                                                   
Victor (imagem meramente ilustrativa).
Eu não gostava de Victor sozinha. Eu gostava dele junto da Babi, da Tê, da Cecília, da Jé A., da Jé B., da Ana P., da Malu – e essas eram só as meninas da 6ª C. Era como uma atividade extracurricular. Todos os dias nós nos reuníamos para admirá-lo juntas, de longe, e estava tudo bem assim. Como estávamos todas no mesmo barco, passei a me sentir mais confortável com o fato de estar interessada em alguém da quinta (!!!) série (!!!), mas apenas o suficiente para admitir isso para mim mesma. Jamais disse ‘a-mi-gas, eu gosto dele’. Nunca consegui me abrir facilmente para ninguém, muito menos admitir que gostava de algum garoto. Então, para as meninas do meu grupinho, eu só achava ele bonito e acabava aí.
Ó, mera ilusão.
O tempo foi passando e meu interesse por Victor crescia cada vez mais. Nós nunca havíamos trocado uma palavra, mas eu estava apaixonada. Eu sabia que ele era minha alma gêmea. Não podia ser coincidência ele parecer o Taylor Hanson e o Matheus do Br’oz e ter aparecido no meu colégio. Eu passava os dias sonhando acordada, imaginando as mil interações que nós poderíamos ter. Eu sabia que não daríamos certo de cara, porque, como todo garoto popular do ensino fundamental, ele era um pouco metido; mas aquele era o pontapé perfeito para a minha comédia romântica.  Nós podíamos começar nos odiando e, depois, nos apaixonar. Claro que eu omitiria o fato de que já estava interessada desde antes, porque ele não precisava saber. Ele poderia ser o Freddie Prinze Jrdo meu filme Sessão da Tarde, e eu nem me importaria em ser objeto de aposta se o final da história envolvesse nós dois dançando Kiss Me no jardim. 
Determinada a ser notada por Victor (mas nem tanto, pois tinha problemas de autoestima), passei a ir para a aula mais arrumadinha. De repente, para a suspeita das minhas amigas e alegria da minha mãe, comecei a usar gloss, brincos, e o maravilhoso colarzinho da Darlene da novela Celebridade. Eu até soltava o cabelo de vez em quando (e me arrependia depois, quando ele armava, mas já era um começo). Não sei se funcionou. Sempre que ele olhava na direção minha e das minhas amigas, eu tinha a impressão de que ele estava me achando horrível e zoando meu cabelo cacheado, mas mais vale uma olhada do que nada.
Também não acho coincidência tudo isso ter acontecido em 2004. 
O ano de 2004 foi perfeito pra sofrer por amor. Você ligava o rádio e, BAM!, Luka – Porta Aberta. Mudava de estação e, PÁ!Sandy & Junior – Você pra Sempre.  Esperava mais um pouquinho e, EITA!, Vagabanda  Você Sempre SeráNão por acaso, as duas últimas músicas foram os temas principais do meu intenso relacionamento com Victor. Toda noite eu me deitava no chão do meu quarto e as escutava, morrendo de medo de que minha mãe me pegasse no flagra e descobrisse que eu tinha sentimentos. Mas eu não podia deixar o medo me impedir de amar demais. Deitada no chão, eu pensava em como eu tinha inveja não só do sol que podia aquecer Victor, mas também de todas as meninas da 5ª série F que tinham a oportunidade de estudar as porcarias das briófitas, pteridófitas e não-sei-o-quê-ófitas com ele. E enquanto Marjorie Estiano cantava sobre a onda que a arrastava e a levava pro mar de outra pessoa, uma lágrima solitária caía do meu olho esquerdo e rolava pelo meu coração:  

Me envolve e me leva pra longe daquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.

Como já falei anteriormente, eu nunca tive coragem de conversar com Victor. O Orkut nem existia direito, então tudo que eu sabia sobre ele, tive que descobrir tal qual um homem das cavernas: na base da observação. Ou, claro, através das amigas caras-de-pau que conseguiam informações importantíssimas. Por exemplo, eu sabia que ele tinha uma irmã mais nova — bem bonita por sinal — chamada Bruna ou Isabela (não consigo lembrar o nome), e que todo dia um senhor parecido com o Papai Noel buscava os dois no colégio (as amigas investigadoras confirmaram que, sim, aquele era o avô deles). Sabia que ele morava em um condomínio que ficava no caminho para a casa da minha avó, e uma vez até o vi na calçada, brincando com uma bola gigante igualzinha às do Quico. Eu costumava criar cenários onde minha mãe se separava do meu pai, e a gente se mudava para um apartamento em frente ao dele. Afinal, quem precisa de unidade familiar intacta quando se tem AMOR? Eu não. Sabia também que ele gostava de Linkin Park, porque apareceu em um evento da escola usando uma camiseta da banda, e só consegui pensar: esse moleque é rebelde. MEU TIPO!!!
Eu não sei se Victor, em algum momento daquele ano, olhou pra mim e pensou “uau, que bela princesa.” A minha competição era mais bonita e mais jovem. As meninas da 5ª série eram lindas, e eu não era lá essas coisas. Sem contar que eu era meio esquisita, e ele já tinha me visto várias vezes conversando com a árvore gigante que havia na frente da escola. Mas não tinha problema. A melhor coisa de toda essa história foi que a maior parte dela aconteceu na minha cabeça. Eu pude escolher o roteiro, a trilha sonora, e nunca corri o risco de conversar com Victor e me decepcionar (o que, vamos combinar, iria acontecer. Eu projetei todos os meus integrantes favoritos de boyband no garoto e alguns atores. É muita pressão pra uma pessoa só). Talvez seja por isso que aquele ano tenha se tornado uma lembrança tão boa. 
E acredito também que Deus nos dá a comédia romântica que estamos preparados para viver. Por exemplo, eu, aos 12 anos, estava preparada para ser correspondida? Ew. Jamais. Mas estava eu pronta para viver mais ou menos o plot de um filme colegial americano, onde a garota loser se apaixona pelo garoto popular? 
EU NASCI PRONTA. 
Então, Deus, do alto de sua sabedoria, me deu exatamente o que eu precisava. Obrigada, Deus. #Gratidão.
O fato é que, se minha vida fosse um livro, daria pra dedicar um capítulo inteiro a Victor da 5ª série. Foram muitas lágrimas, muitas alegrias, e muitos dias sonhando acordada. Mas não pensem que essa paixão durou muito tempo. No ano seguinte, minhas amigas e eu já estávamos firmes e fortes gostando não só de um, mas de DOIS GAROTOS do terceiro ano (upgrade), e eu mal lembrava que Victor existia. Mas gostar do projeto de Taylor Hanson que, pensando bem, parecia muito mais uma versão juvenil e mais limpinha do Kurt Cobain, foi o mais próximo que vivi de uma fanfic interativa da vida real.
Agora, antes de finalizar, eu gostaria de fazer um apelo:

(Câmera 1, foca em mim. DJ, solta o som.)

Victor, pelo amor de Deus. Por onde você anda? De que se alimenta? Como se reproduz? Eu já te procurei no Facebook. Já stalkeei o perfil de todas as pessoas que estudavam com a gente naquela época e procurei até pela sua irmã (pesquisei por todas as Brunas e Isabelas possíveis), E NADA. Victor, essa cidade não é muito grande. Eu já revi alguns de seus amigos, encontrei outras pessoas que estudavam contigo. Você realmente existiu ou foi apenas uma alucinação coletiva? Victor, será que eu... te inventei?
Sabe, hoje eu tenho consciência de que Victor da 5ª série não era minha alma gêmea. Eu cresci, amadureci, e quem me conhece sabe que o amor da minha vida é Harry Styles. Mas eu estava disposta a dar uma chance. Na verdade, eu só queria saber se ele continua lindo e cabeludinho, e se ainda lembra o Kurt Hanson/Taylor Cobain. A última vez que o vi foi no Orkut, lá pra 2006 (eu já estudava em outro lugar), e a foto de perfil foi o suficiente para me traumatizar. Ele estava horrível e completamente diferente do garotinho lindo que um dia eu gostei: cabelo curto arrepiado e cheio de gel, cara de playboy, ABADÁ. Mas não quero acreditar que ele tenha se perdido assim. Vai que, sei lá, talvez, quem sabe, ele tenha melhorado? A adolescência é difícil para todos.
Mas, olha, Victor, independente do que tenha acontecido e de como você esteja hoje, o poder de uma boa trilha sonora nem o tempo consegue apagar. E mesmo quando eu já estiver casada com um homem famoso e grávida do nosso segundo filho, sempre que eu escutar a melhor música da Marjorie Estiano, voltarei a ser a garota de 12 anos que chorava deitada no chão do quarto:

Eu posso tentar te esquecer, mas você sempre será...
a onda que me arrasta, que me leva pro teu mar...

Laiá. Laralaiá. Laralaiááá lá láááá.

Me envolve e me leeeva pra longe daquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.




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