Vou fingir que é uma newsletter
Faz
tempo que eu não escrevo pro blog. Faz tempo que eu venho aqui, abro o Word,
ensaio algo pra dizer, e acabo deixando pra lá. Em algum momento acabei
associando o ato de escrever a dor, a frustração, e a me colocar num lugar
onde, emocionalmente, eu não quero estar. Um lugar em que o que eu tenho nunca
é o suficiente, e não importa o quanto eu estique o braço e estenda minha mão, o
outro lado só se distancia mais e mais. E chegar onde eu gostaria de chegar
acaba se tornando impossível.
O que
não é exatamente verdade. Escrever me traz coisas ótimas. Me ajuda a descobrir
sobre mim, a entender meu lugar no mundo, a organizar meus pensamentos. Me traz
autoestima, me mostra o quão bem eu me expresso quando expressar é o meu foco,
e me dá a calmante sensação de que, ei,
talvez eu tenha nascido pra fazer alguma coisa. Talvez haja uma função que eu
consiga exercer, no fim das contas. Escrever me traz alguns retornos, e se elogios eu recebo, consigo passar pelo menos
uma semana sem duvidar totalmente do meu potencial. Mas por que é tão difícil?
Eu tenho medo de não viver nunca
Eu tenho
passado por muita coisa. Tenho crescido tanto internamente. Só nos últimos meses
parece que vivi anos, e coisas acontecidas em agosto me parecem borradas, como
se tivessem ocorrido anos atrás. Autoconhecimento é ótimo, mas não traz provas materiais
com tanta facilidade. São tantas crenças a serem desconstruídas, tantos
complexos a serem compreendidos, tantas partes reprimidas a serem integradas. Tantos pedaços de mim deixados
no escuro, pedindo socorro, implorando para que eu acenda a luz. Crescimento
espiritual é importante, e, ao meu ver, essencial, mas não é algo muito
confortável. Não é um bom emprego, não é uma viagem internacional, não é algo
que eu possa tirar foto e postar no instagram.
E então surge a pergunta: se uma pessoa ascende espiritualmente em uma floresta
e ninguém está perto para ver, ela ascendeu de fato ou é apenas uma personagem do Paulo Coelho? Ando sentindo
falta de provas materiais do meu progresso para que eu possa mostrar aos outros
que eu não estou parada no tempo. Para que, talvez, através da validação
alheia, eu consiga acreditar que não estou
parada no tempo. Porque eu olho ao meu redor, e todos parecem estar se movendo,
e é tão desesperador. Mas dentro de
mim eu sei que eu me movo também. Estou andando mais do que nunca andei. Estou entendendo
coisas que nunca entendi e nunca me senti tão consciente. Talvez seja a hora
de ser mais gentil comigo mesma e confiar no meu coração.
Mas,
outra vez: por que é tão difícil?
Não precisa ser perfeito; não precisa ser
perfeito
Não
sei quanto a vocês, mas minha criação foi mais ou menos assim: eu não poderia
errar, nunca. E deveria ser a melhor, sempre. E deveria ser a melhor no que
meus pais consideravam interessante para mim, que nem sempre coincidia com o
que eu considerava interessante para
mim. Mas como ser a melhor sem passar pelo estágio inicial de aprender e errar e
errar até aperfeiçoar a técnica? Não sei. Talvez nascendo perfeito, ou não
tentando nunca. Como não sou perfeita, acabei ficando com a segunda
alternativa. E até hoje, sofro por causa disso.
Semana
passada, Nat, eu e mais nove meninas publicamos uma coletânea de contos
românticos chamada “Qualquer Clichê de Amor” (disponível na Amazon mais próxima #AD). A ideia foi da Nat, e
quando ela me convidou para participar, aceitei sem muita confiança. Mas eu não
me perdoaria se dissesse não. Eu não poderia deixar passar outra oportunidade
de fazer o que gosto por medo de não ser boa o suficiente.
(Não
consigo me lembrar da última vez em que me achei boa o suficiente para realizar
algo. Provavelmente aconteceu na infância, e deve coincidir com a primeira vez
em que, por algum motivo, entendi que eu não era.)
Durante
o processo de escrita, eu pensava em desistir, no mínimo, três vezes por dia. E entre uma
crise de ansiedade e outra, eu repetia para mim mesma “não precisa ser
perfeito; não precisa ser perfeito”. Parece tão óbvio, certo? Não precisa ser perfeito. Claro que não. Mas é algo
difícil de compreender quando você aprende muito cedo que só será digna de amor
assim. E é tão cansativo se privar de tudo por não se sentir adequado. Meu
ideal de adequação é absurdo. É inalcançável, e sempre que penso estar chegando
perto, ele se afasta mais. O que, hum, se conecta bastante com o
que eu escrevi no início do texto.
Pois
bem. “QUE SE FODA A PERFEIÇÃO!”, eu dizia aos prantos, certa de que tudo o que
eu escrevia estava uma merda. Mas eu escrevi. E não achei uma merda no final. E, uau, finalizei algo!!! Eu chorei muito enquanto escrevia (eu choro escrevendo qualquer coisa), e sinto que uma
parte de mim foi transformada depois disso. Estou muito orgulhosa da história
que eu criei, e das meninas que fizeram parte disso comigo. Obrigada Nat por ser um anjo em nossas vidas sempre. E espero continuar me arriscando, mesmo sentindo pavor de errar.
Bem,
se você quiser ler, COMPRE NOSSO LIVRO NA AMAZON. Meu conto se chama Quando Gira O Mundo, e gira (risos) em torno de
a) uma garota que sente medo de morrer sozinha; a) uma tia-avó fã de Fábio Jr.
e c) um chupa-cu aterrorizando a cidade. (Mentira, não tem nenhum chupa-cu na
história.)
Ai, posso dizer uma coisa? Deus, eu amo romcoms. Assistir, escrever, ler... Se Deus criou algo melhor que boybands e comédias românticas, ele guardou para si. E não julgo não. Eu também guardaria pra mim algo tão sensacional.
Às vezes no silêncio da noite eu me pergunto: irei eu, um dia, viver??? Uma romcom??? Já acendi vela online e torço para que sim. #Fé.
Para refletir
Às vezes no silêncio da noite, me pergunto também se eu deveria me abrir tanto assim na internet. Mas se a resposta fosse negativa, eu deveria começar deletando o Twitter, não é verdade? Vulnerabilidade é o primeiro passo para criarmos laços, o que me faz pensar: acho que é essa a razão para fazermos amizade com facilidade no Twitter. Não precisamos fingir ser quem não somos, nem temos que inventar uma vida perfeita. Nós nos aproximamos do outro porque nos vemos no outro, e isso só acontece quando nos permitimos ser verdadeiros. Quando somos vulneráveis.
Era assim também no Orkut. Não é assim no Facebook. Me pergunto o porquê.
Enfim, eu quero laços em minha vida. Então continuarei a desabafar nesta plataforma online.
Aleatoriedades
♡ Minha intenção inicial era postar uma crônica sobre minha faculdade/formatura, ou sobre meus tempos de fake, mas não estou no clima para coisas longas e super estruturadas agora. Hoje quis fazer um post assim. O que é melhor que nada. #Gratidão.
♡ Mais
uma vez se tornou evidente o quanto é difícil viver normalmente sofrendo de
ansiedade — ou qualquer transtorno mental, na verdade. E eu dou um tapinha nas minhas costas sempre que posso. Dê um
tapinha nas suas costas também. Você merece.
♡ Essa música da Jessie Ware é MARAVILHOSA e meu vontade de estar APAIXONADA só para sofrer com PROPRIEDADE enquanto eu a ESCUTO. (amo escrever feito a Rosa Presley. Por onde anda, Rosa Presley? Tá sumida.... Beijo, querida......)
♡ Tive esse insight esses dias e ainda estou maravilhada.
Bem, acho que é isso.
Motivos para chorar:
. Na
atual conjuntura, não acho que uma lista seja necessária.
Motivos para sorrir:
. A
volta do Rouge;
.
Oreo não tem leite;
. Amy
e Jonah em Superstore (ou qualquer ship de
sua escolha);
.
Júpiter entrou em escorpião;
. O
amor existe;
. E
também existe mágica;
. Coisas
boas acontecem o tempo todo, elas só não só noticiadas com tanta frequência, e
acabamos condicionados a considerá-las triviais;
. Mas
nossa existência é um milagre;
. Cada
vez que o ar enche nossos pulmões, cada momento de conexão, cada pessoa
estranha que nos trata com gentileza, cada vez que alguém nos enxerga;
. Cada
vez que uma vida nova nasce, que um cãozinho se deita no véu de uma noiva e é
adotado, cada vez que, entre crises de identidade, temos um lampejo de certeza
de quem somos — ainda que não dure muito tempo. Cada música boa que descobrimos
sem querer, e que, porra, era exatamente do
que estávamos precisando;
.
Cada vez que pensamos em alguém e pouco depois essa pessoa aparece; cada vez que uma
onda de nostalgia nos invade só pra nos lembrar que conhecemos, sim, a
felicidade, e que nada nos impede de experimentá-la novamente;
. Cada
surto de inspiração, cada pôr do sol, cada nascer do sol, cada nova possibilidade
que surge à medida que fazemos novas escolhas;
. A vida
é mágica;
. Todo
fim é um novo começo, e isso é reconfortante. Ainda que doa, ainda que machuque,
uma coisa só termina quando outra está pronta para começar;
. E novos começos são excitantes;
. Porque são páginas em branco, e what comes is better than what came before;
.
Não dá pra se perder de quem a gente é;
. O
que significa que nunca estamos tão perdidos quanto acreditamos;
.
Sempre há um fio que nos leva de volta pra casa;
. Ou um grupo de pessoas;
. E eventualmente, encontramos nosso lugar no mundo;
. Porque a vida é mágica;
. E nunca estamos sós;
. E nada é em vão;
. Então
é isso.
Eu
estou me sentindo melhor agora. Espero que vocês também.
que ícone, jesus
ResponderExcluirmelhorou meu dia <3
AAAAAAAAAAH MATEUS
Excluire seu comentário melhorou o meu!!!!!! <333
impressionantemente, estou me sentindo melhor sim (o que talvez tenha relação com o sentimento de mal estar/surpresa/vulnerabilidade de ter me identificado tanto com algumas coisas do texto)
ResponderExcluirvc é incrível e a sua vocação pra escrever não existisse, teria que ser inventada, pq é real <3
VC DEIXOU COMENTÁRIO AQUI, eu não tinha visto. ai let <33333333 fico feliz por você ter se sentido melhor, ainda que as coisas estejam desconfortáveis. E DIGO O MESMO SOBRE VOCÊ, 100%. obrigada <3333333333
ExcluirAaaaaa que texto lindo <3
ResponderExcluiraaaaaaaaaaah, obrigada <33
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